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OS PALHEIROS DA COSTA NOVA com a Arquiteta Nide Santos
Que a pesca seja, desde
sempre, uma narrativa constante na história ilhavense já todos sabemos. Mas desta vez a Talkie-Walkie quis
contar, através do saber da arquiteta Nide Santos, como essa actividade
construiu e caracterizou este território
a partir dos palheiros da Costa Nova.
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Nide Marques dos Santos nasceu em 1991 em
Martigny (Suíça).
Formou-se em Arquitetura pela Universidade
de Coimbra (2016), tendo desenvolvido a dissertação de mestrado com o tema Arquitetura
e Memória: o palheiro como
objecto de identidade territorial.
Através do seu escritório Nide Santos
arquitectura (Cantanhede) desenvolve projectos na área de arquitectura, com
particular interesse no estudo da arquitectura rural e preservação da paisagem.
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A ligação do povo português
ao mar é um legado muito antigo que deriva da
condição de finisterra da Europa. Por isso, a necessidade de habitar a praia
originou a fixação de aglomerados ao longo da costa portuguesa.
No caso do litoral centro, colonizado pelas
gentes de Ovar, Murtosa e Ílhavo, os
pescadores e as suas famílias que ali se fixaram deram origem a habitações efémeras que humanizaram essa paisagem.
Estamos pois a referir-nos aos palheiros, edifícios resultantes de uma tipologia simples que foi adaptada pelas gentes às particularidades da região.
Essas construções (com origem no século
XIII), estavam relacionadas com a actividade da faina sazonal e por isso de
carácter precário, resultando da necessidade de
abrigo temporário dos pescadores e também para guardar os
seus apetrechos.
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Com a chegada do inverno, desapareciam todas
as atividades relacionadas com a pesca e os próprios
palheiros não estavam preparados para encarar as
dificuldades climáticas dessa época, ficando
desamparados à espera da próxima temporada. Mas no início do século XIX, com o
aumento do consumo de pescado em cidades como Porto e Aveiro criou maior volume
de trabalhos de pesqueiro, as estadias tornaram-se mais prolongadas e as
famílias da faina fixaram-se de forma definitiva na praia. Consequentemente, os
palheiros ganharam melhores condições e passaram a ser habitação permanente.
©???
Os palheiros eram, então, construídos diretamente
sobre o areal ocupando-o, geralmente, de forma dispersa, sendo que marcavam a
paisagem ao erguerem-se nas dunas, numa composição palafita (estrutura de
estacas), solução que prevenia contra as adversidades climatéricas próprias daquela geografia,
junto ao mar.
O palheiro enquanto objecto de humanização
da paisagem demonstrou ser uma tipologia popular onde o valor de verdade
construtiva, forma e função equivalem e, como uma certa
provocação e graça, diz-nos a arquiteta Nide Santos que estas construções
parecem ter antecipado alguns dos critérios reivindicados
pela arquitectura moderna de Le Corbusier.
©????
No caso da Costa Nova, em Ílhavo, os
palheiros eram, inicialmente, de carácter efémero, servindo para guardar
alfaias, redes e outros acessórios de pesca.
Contudo, com a evolução do aglomerado, esses palheiros tornaram-se habitação para as famílias da pesca e
desenvolveram-se como tipologias de habitação permanente, ocupando o território
de uma forma bastante linear, na sua condição entre mar e ria.
Ora, a morfologia territorial da Costa Nova
é bastante particular, circunstanciada por variados limites, situada entre
frente de mar e frente de Ria. Adicionalmente, este território-língua é ausente
de vegetação e sem variações de altitude, condição ideal para os ventos fortes
do Atlântico e, consequentemente, os arrastões de areia. Por todos estes
motivos, embora surgindo ainda antes de qualquer regulamentação para a
ordenação urbana, os palheiros da Costa Nova alinham-se e encostam-se uns aos outros,
ainda que sobre as estacarias, reduzindo, assim, o número de fachadas expostas
aos ventos, ordenando, assim, o território como o conhecemos.
Como tipologia dominante da costa litoral,
os palheiros surgiam em planta retangular, simples, com poucas divisões,
construídos em madeira, por se tratar de um recurso abundante na zona, de baixo
custo, fácil transporte, durabilidade e
fácil manuseamento.
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No que respeito diz à sua composição, os
palheiros caracterizam-se pela cobertura de duas águas (originalmente em colmo,
sendo depois substituída por telha), apresentando uma fachada simples, com
porta ladeada por duas janelas, abrindo-se para a rua ou praia, onde a vida
comunitária acontecia. O espaço térreo, entre a duna e a estacaria, podia ser
vazado ou totalmente fechado com tabuado de madeira. Este serviria de arrumo
para os objetos da faina.
Em termos de organização, a zona de
habitação encontrava-se no piso elevado, sobre a estacaria, acedendo por escada
ou rampa. A planta livre enfatizava a cozinha, tornando-se no espaço mais
importante da habitação. A partir da cozinha acedia-se às alcovas, espaços para
dormir de dimensão reduzida, e a outros espaços da habitação. A latrina,
normalmente, situava-se entre a estacaria, ao nível do rés-do-chão, caso existisse.
Ao longo do tempo, os palheiros tornaram-se
edifícios de maiores dimensões, podendo atingir os dois pisos e a fachada
tornou-se mais elaborada. Em planta, estes novos palheiros organizavam-se em
corredor e seriam compostos por maior número de divisões (quartos).
O revestimento exterior do palheiro era
construído em tabuado. A madeira podia ser disposta na horizontal - sistema
trincado - ou colocado na vertical - sistema justaposto. De um modo geral, eram
aproveitados óleos e tintas usadas em embarcações
para pintar os palheiros, como forma de proteger estes pequenos edifícios
contra a ação marítima a que estavam expostos, tal barco de meia lua usado na
arte xávega.
© Ricardo Gonçalves
Foi durante o século
XIX que, com o desenvolvimento sócio-económico, a Costa Nova, bem como outros
locais do litoral português, passou a ser destino de veraneio ocorrendo uma
transformação dos palheiros em habitação turísticas. E, por
isso, também foi evidente a alteração da sua fisionomia. Desde então que é possível reconhecer os palheiros da Costa
Nova como exemplares raros e autênticos, enquanto
objetos transformadores da paisagem e enquanto objecto de identidade e unidade
territorial, hoje caracterizada pela forte presença cromática das suas fachadas.
Hoje, para quem anda pelas ruas da Costa
Nova, a existência de blocos habitacionais na frente
marginal ao mar contrastam fortemente com a pequena escala do palheiro,
predominante na frente de ria. E, tal como noutros aglomerados, também
se constata o uso de outros materiais (adobe e a pedra) na construção de
edifícios que seguem a tipologia dos palheiros, deixando de recorrer à veracidade
material da madeira.
© ????
Testemunho da arquiteta
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“Já no final da visita Olhar por Dentro, um dos visitantes fitou-me e perguntou se
afinal estávamos ou não perante um aglomerado de palheiros. A minha resposta
foi que de facto, tal como a maior parte dos aglomerados de palheiros, também a Costa Nova
empobreceu em relação aos poucos exemplares que seguem a verdade construtiva e
o caráter funcional que defendo na minha dissertação.
Enquanto arquitecta interessa-me mais o
valor técnico do “saber fazer”. Defendo a
preservação e recuperação da memória do palheiro
enquanto valorização e sobrevivência dos métodos
tradicionais e da própria tipologia. No
entanto, é inegável estarmos perante um aglomerado de
palheiros, tanto por se perceber que esta tipologia foi sem dúvida matriz na
sua organização espacial, assim como pela sua importância cenográfica e estética
da paisagem, como é evidente ao longo da margem da ria.
Enquanto arquitectos, resta-nos o pensamento
crítico para criar soluções
sustentadas pelo diálogo entre arquitetura popular e erudita, respeitando a memória do passado e criando relações com o
arquétipo tradicional.”
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e porque o conhecimento ocupa (bom) lugar...
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A actividade piscatória da Costa Nova
fez-se intimamente ligada à religião, com as crenças do sagrado para proteção
das vidas embarcadas. Nesse sentido, por forma a afastar o ambiente tenebroso
que se fazia sentir nos tempos de em que iam para alto-mar, os habitantes
pintavam os barcos e os palheiros de modo a transformar o ambiente em algo
alegre. Inicialmente, eram utilizadas tintas de tonalidade avermelhada e pouco
expressivas, sobretudo para efeitos de preservação dos palheiros. Só mais tarde
foram introduzidas as cores garridas e alegres como ostentação da população.
Foi durante o Estado Novo que o litoral
português suscitou interesse político, social e
intelectual. Essa busca da praia como áreas de lazer implicou, pois, o
crescimento dos aglomerados no litoral, que tiveram de se adaptar ao mercado da
oferta e da procura do turismo de massas. Deste modo, o turismo balnear
sobrepôs-se à actividade piscatória. A arte xávega acabou por se diluir, dada a incapacidade de competir
com as traineiras.
Para saber mais sobre este tema, poderá
consultar a tese de mestrado da arquiteta Nide Santos, disponível online,
intitulada ARQUITETURA E MEMÓRIA. O palheiro
como objeto de identidade territorial.
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DESCRIÇAO - Robertos e MarionetasUr, ipidit essit lant asseque nes ex et od que quiscipicae none dolorio tet disto occus doles dolestibus dita eosanda et pre sant…
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Filipe Serra Carlos é, para além de historiador de arte, um enorme curioso por tudo
o que o rodeia em qualquer viagem que faça. Foi ao participar numa das nossas visitas
Olhar Por Dentro que surgiu o convite da Talkie-Walkie para o ter como especialista
numa visita sobre a Arte Nova.
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Como já dizia o barqueiro Manuel
da Graça, conhecido como Ti Ameixa, “O trabalho das
travessias é coisa a sério” e, nesta visita, Etelvina levou-nos a perceber porquê.
A barca da “passage”, o Cais da Bruxa, o Bairro dos Pescadores e Cais da
Malhada, ou a paragem obrigatória na Ponte da Vista Alegre, passagem para os
operários da Vista Alegre, faziam parte dos quotidianos e travessias de outros
tempos e ajudam-nos a perceber hoje a morfologia deste território.
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Maria João Fradinho, arquitecta ilhavense, depois de viver fora e noutros lugares de Portugal, regressou a Ílhavo em 2011 para criar o seu próprio estúdio de arquitectura Frari - Architecture Network. A Talkie-Walkie convidou-a para especialista desta visita Olhar por Dentro pela vontade de mapear formas de trabalhar no próprio território à luz de aprendizagens em contextos diferentes.
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A Salicórnia havia chegado aos sentidos da Talkie-Walkie há já muito tempo. Sabendo-a uma espécie autóctone das marinhas de sal, esta visita levou-nos até à Horta da Ria, na Ilha dos Puxadoiros, seguindo as
orientações de Júlio Coelho, professor de educação física muito curioso sobre a biodiversidade da Ria de
Aveiro e que se dedica à investigação e produção de Salicórnia desde 2013.
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O arquiteto João Paulo Cardielos levou-nos, de
bicicleta, à descoberta da expansão da cidade com base em três das suas
etapas‑chave. Trilhou-se um percurso‑narrativa sobre vivências, traçados
históricos e modos de fazer, sobre indústria e atividades económicas mas, acima
de tudo, sobre as inúmeras camadas do território que são consequência das
opções diacrónicas do seu desenvolvimento.
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A reabertura da galeria de exposições da Casa da Cultura de Ílhavo fica marcada pelo acolhimento da “Braços”, um desafio do 23 Milhas à associação AGIL para a curadoria de uma exposição sobre trabalho em comunidade, espaço público, criação em rede e o exercício democrático associado à participação cívica.
himalion, a mais recente entidade artística de Diogo Sarabando dedicada às explorações pelo indie-folk, apresenta, em formato de sexteto, um conjunto de canções do novo LP intitulado BLOOMING (2021) e o EP de estreia EGRESS (2020).
“Private Reasons” assinala o regresso de Bruno Pernadas às edições depois de “How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge” (2014) e “Those Who Throw Objects at The Crocodiles Will Be Asked to Retrieve Them” (2016).
Salvador Sobral apresenta “bpm”, o seu mais recente álbum de estúdio, a primeira vez que Salvador Sobral se aventura na edição de um disco composto inteiramente por originais de sua autoria, em parceria com Leo Aldrey
A nova criação de Jonas & Lander, BATE FADO, é um espetáculo híbrido entre a dança e o concerto de música, projetado para nove performers: quatro bailarinos, quatro músicos e um fadista (bailarino).
Os Lan Trio são Mário Laginha (pianista), Julian Arguelles (saxofonista) e Helge Norbakken (percussionista) que apresentam, ao vivo, o Álbum Atlântico, o segundo disco do super-trio europeu de jazz.
Aos 92 anos, Eunice Muñoz sente-se preparada para abandonar os palcos. Mais que uma despedida, o espetáculo A Margem do Tempo tenciona ser um passar de testemunho à sua neta Lídia Muñoz e às gerações vindouras.
Douglas Dare regressou aos discos em 2020 com o álbum “Milkteeth”, editado pela Erased Tapes. Neste registo, que é, entre muitas coisas, a materialização do conforto de Douglas Dare quanto à sua identidade.
A ideia é a de um jardim que explode no betão, mas a verdade é que será também um palco, uma plateia, um lugar de encontro e um espaço de jogo.
234 397 260
Para assuntos relacionados com bilheteira contactar os números 234 397 263