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As Azenhas de Vale de Ílhavo com a engenheiro geólogo Paulo Morgado
Esta
visita pretendeu dar a conhecer uma paisagem natural do concelho de Ílhavo, que
o ser humano ocupou e modelou, aproveitando os seus recursos de forma a
permitir a instalação e desenvolvimento de uma comunidade com séculos de história,
que, em parte, justificam a origem e a persistência, até aos dias de hoje, de
um dos seus produtos mais famosos: as “padas” de Vale de Ílhavo. Convidámos o
engenheiro geólogo Paulo Morgado para nos narrar os processos de
desenvolvimento deste território de padeiras.
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Paulo Morgado (Ílhavo, 1968) é licenciado em Engenharia Geológica (1994) e Mestre em Geoquímica pela Universidade de Aveiro (1997).
Investigador da unidade GeoBioTec (Grupo de Geobiociências, Geotecnologias e Geoengenharias), da Universidade de Aveiro. Integrou a Equipa de Arqueologia e o Gabinete da Reitoria da
Universidade de Coimbra que elaborou o processo de candidatura da UC a património
mundial da UNESCO Desenvolve trabalho no âmbito do património cultural, natural e geológico. Tem em mãos trabalhos de investigação sobre a difusão da produção de açúcar
pelos portugueses no início da época moderna, centrada na produção da cerâmica do açúcar no centro oleiro de Aveiro (séc. XV / XVIII).
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Se o motor é o próprio humano, a água é a força
motriz que o faz mover.
Partiu-se desta premissa para se contar uma história
que liga diversas áreas do conhecimento. Até porque o desafio inicial
centrava-se na conhecida “Rota das Padeiras” e, por isso, esta visita pretendeu
mostrar um pouco da origem e justificação deste produto em Vale de Ílhavo.
Começámos
pelo início, a narrativa da água.
© Paulo Morgado
Uma das características desta paisagem de Vale de
Ílhavo, como indica o seu topónimo, é a existência de um vale onde, na sua
parte mais baixa, corre uma linha de água, também chamada de Madriz. Com origem
nas águas subterrâneas existentes nas camadas de areias que assentam nas
argilas, ou barro, no dizer popular, é esta água que alimenta as
levadas, os canais construídos para conduzirem a água até às mós das azenhas e
aos regadios.
Desviando as águas da madriz numa posição mais a
montante, as levadas percorriam a meia encosta de forma que, quando chegassem à
azenha, existisse declive suficiente para gerar uma queda de água com força suficiente
para acionar as mós.
Esta atividade moageira é já muito antiga,
estando documentada pelo menos a partir do séc. XVI.
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Em
1578 foi realizada uma escritura de prazo antigo, que os oficiais da Confraria
de Nossa Senhora da Graça de S. Miguel de Aveiro fizeram das suas azenhas do
Vale de Ílhavo, a um João André. Durante o séc. XVII, esta confraria vai fazer
diversas escrituras de compra ou aforamento de diversas azenhas em Vale de Ílhavo.
Em
1772, os donatários de Ílhavo requereram provisão régia para realizar um
levantamento das águas das azenhas de todo o concelho, de modo a poderem fixar
os foros e cabanarias (impostos) por elas devidas, no que ficou conhecido como
o “Tombo das águas de Ílhavo”. Na “medição das águas das azenhas do Vale de Ílhavo
de Baixo” foram inventariadas 15 azenhas, desde o ponto mais a montante, no
limite com a povoação de Soza, na zona do Vale das Maias, até ao Soalhal, já perto
da ligação ao Rio Boco. Algumas destas azenhas eram propriedade de religiosas
dos conventos de Aveiro, sendo uma delas da Senhora da Penha de França da Vista
Alegre, administrada pelo Padre João Gomes.
© Paulo Morgado
Nesta visita tivemos a oportunidade de visitar
duas azenhas. Uma ainda em funcionamento, pertencente ao Sr. Urbino Grave, e
outra já inativa, mas que ainda mantém muito da estrutura antiga, que pertenceu
ao pai da atual proprietária, a D. Fernanda. Muitas histórias foram contadas,
umas sobre as azenhas, outras sobre as águas e muitas sobre as vivências da própria
comunidade.
A importância da água era de tal grandeza para toda a comunidade que o
Sr. Urbino contou que por vezes as mós paravam de moer por falta de água, o que
era provocado por alguém vizinho que a desviava para a rega dos seus campos.
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Certa
vez isto aconteceu de noite, tendo então alguém ido de enxada na mão pela
levada acima, onde, a coberto da noite vislumbrou um vulto, que terá levado com
o cabo da enxada. Conta-se que nunca se chegou a saber quem foi que desviou a água,
mas dali em diante tal não voltou a acontecer!
Sobre as rotinas da vida de moleiro, contou-se
que “acordavam com o silêncio”. Ora, quando a azenha trabalhava pela noite
dentro, o moleiro ficava perto do engenho para verificar se tudo corria bem,
adormecendo assim ao som característico da água a correr e das mós a moer. Se
de repente se fazia silêncio, era sinal que algo se passava e de pronto
acordava!
Visitámos ainda algumas levadas que hoje se
encontram em propriedades privadas mas que correm como antigamente.
Todo este sistema de gestão das águas naturais
para servirem como força motriz, de tecnologia da azenha e das vivências dos
moleiros terá permanecido globalmente inalterado, pelo menos desde o séc. XVI
até aos anos 40 do séc. XX. Por essa altura, a Câmara de Aveiro andava à procura
de novas captações de água, que permitiriam reforçar o abastecimento à cidade.
Para desenvolver esses trabalhos contratou, em 1934, o Engº Duarte Pacheco, o
qual, depois de muita procura, descobre o aquífero do Vale das Maias em Vale de
Ílhavo.
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Uma
notícia do jornal Correio do Vouga dá conta deste projeto: «Os trabalhos de
captação começaram no dia 11 de setembro de 1944; a rede de distribuição
principiou no dia 5 de fevereiro de 1945; a conduta de 9 km foi concluída em 27
de janeiro de 1946; a água correu pela primeira vez em Aveiro, no fontanário da
Praça do Peixe, em 14 de abril desse ano. Depois de concluída a obra, foi
necessário construir, na Rua de Ílhavo (atual Av. Mário Sacramento), três
reservatórios: um elevado, com a capacidade de 750 m³, e dois enterrados, com a
capacidade de 500 m³ cada um».
Claro que esta situação provocou a drástica
diminuição do caudal de água disponível para alimentar as levadas e as azenhas
deixaram de ter a sua força motriz como até então. Como forma de compensação,
foi dada uma indemnização que poderia ser utilizada para desativar a azenha ou
para promover a instalação de motores elétricos para acionar as mós. Perdeu-se
neste momento toda a magia do barulho da água que, correndo pelas levadas,
pelos augueiros ou pelas canejas, percorria todo o vale, fazendo mover as mós.
Foi esta secular arte moageira que permitiu a disponibilidade
da farinha, que quase todas as casas aproveitavam para cozer o seu pão.
Felizmente esta arte chegou aos nossos dias, e a herança deste património está representada
nas diversas padeiras de Vale de Ílhavo, que ainda produzem as suas padas e os
seus conhecidos folares.
Esta
foi uma visita que abriu, sem dúvida, o apetite para outras visitas e para
novos olhares.
e porque o conhecimento ocupa (bom) lugar...
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O
Vale de Ílhavo foi sendo cortado pelo correr da água ao longo de muitos anos
(neste caso desde a última grande glaciação que ocorreu há cerca de 20 000
anos). E é nas vertentes destes vales que está o contato entre as areias e as
argilas, sendo neste ponto que a água aflora naturalmente em nascentes. Em
pontos estratégicos foram depois construídas fontes garantindo o abastecimento
da comunidade.
As
encostas destes vales são constituídas por terrenos muito férteis (as
designadas vessadas, usadas para semear a erva para alimento e cama do gado),
alimentados pelas frequentes cheias que ocorriam em épocas de forte precipitação.
No Verão, estando as terras mais secas, eram usadas para o cultivo do feijão,
hortaliças, milho e de abóboras.
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Há uma paisagem em Portugal que, não
parecendo à primeira vista, é constante e típicamente nacional, manifestando-se
em formas diferentes ao longo das várias geografias do país.
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No final de 2016, apresentava-se à cidade a nova entidade
cultural de Ílhavo, o 23 Milhas. Mas dar a conhecer este projeto de cultura é
também conhecer as suas “entranhas”, desde as suas pessoas aos seus
equipamentos (logo quatro!).
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Filipe Serra Carlos é, para além de historiador de arte, um enorme curioso por tudo
o que o rodeia em qualquer viagem que faça. Foi ao participar numa das nossas visitas
Olhar Por Dentro que surgiu o convite da Talkie-Walkie para o ter como especialista
numa visita sobre a Arte Nova.
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É
fácil encontrar detalhes do modernismo nas ruas do município de Ílhavo, do
centro à Costa Nova, em direção às Quintãs ou no Vale de Ílhavo. Mas há obras
que se destacam pela originalidade do seu desenho, não se assemelhando a nada
mas reportando para o seu contexto.
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Este artigo foi escrito pelo convidado, Paulo Morgado.
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Nem
só de edifícios se fala quando nos referimos a arquitetura. As “casas do mar” também resultam de um trabalho de construção pensado,
medido e preciso, cheio de particularidades técnicas e até estéticas.
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Em Ílhavo,
surgiram, nas duas últimas décadas equipamentos públicos que referenciam
culturalmente a cidade, não só pela sua programação mas também pela
singularidade arquitectónica, que espelha a (bio)diversidade histórica local.
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Como já dizia o barqueiro Manuel
da Graça, conhecido como Ti Ameixa, “O trabalho das
travessias é coisa a sério” e, nesta visita, Etelvina levou-nos a perceber porquê.
A barca da “passage”, o Cais da Bruxa, o Bairro dos Pescadores e Cais da
Malhada, ou a paragem obrigatória na Ponte da Vista Alegre, passagem para os
operários da Vista Alegre, faziam parte dos quotidianos e travessias de outros
tempos e ajudam-nos a perceber hoje a morfologia deste território.
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Maria João Fradinho, arquitecta ilhavense, depois de viver fora e noutros lugares de Portugal, regressou a Ílhavo em 2011 para criar o seu próprio estúdio de arquitectura Frari - Architecture Network. A Talkie-Walkie convidou-a para especialista desta visita Olhar por Dentro pela vontade de mapear formas de trabalhar no próprio território à luz de aprendizagens em contextos diferentes.
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“Diz-me a importância que atribuis à bicicleta e dir-te-ei que cidade és!” Assim responderam os convidados
desta visita quando a Talkie-Walkie propôs uma visita em bicicleta ao Laboratório de Planeamento e Políticas Públicas
(L3P), representado por Catarina Isidoro, Frederico Sá e
José Carlos Mota.
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Que a pesca seja, desde
sempre, uma narrativa constante na história ilhavense já todos sabemos. Mas desta vez a Talkie-Walkie quis
contar, através do saber da arquiteta Nide Santos, como essa actividade
construiu e caracterizou este território
a partir dos palheiros da Costa Nova.
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A
conjugação entre a técnica do desenho e observação enquanto arquitecto e o seu
gosto pelos temas marítimos da cultura portuguesa, faziam de Octávio Lixa
Filgueiras um investigador das embarcações tradicionais, assim o define a
professora Teresa Soeiro.
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A Salicórnia havia chegado aos sentidos da Talkie-Walkie há já muito tempo. Sabendo-a uma espécie autóctone das marinhas de sal, esta visita levou-nos até à Horta da Ria, na Ilha dos Puxadoiros, seguindo as
orientações de Júlio Coelho, professor de educação física muito curioso sobre a biodiversidade da Ria de
Aveiro e que se dedica à investigação e produção de Salicórnia desde 2013.
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O arquiteto João Paulo Cardielos levou-nos, de
bicicleta, à descoberta da expansão da cidade com base em três das suas
etapas‑chave. Trilhou-se um percurso‑narrativa sobre vivências, traçados
históricos e modos de fazer, sobre indústria e atividades económicas mas, acima
de tudo, sobre as inúmeras camadas do território que são consequência das
opções diacrónicas do seu desenvolvimento.
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Mallu Magalhães tem a particularidade de ser a dona descomprometida de uma leveza e ternura profundamente autênticas. Isso reflete-se na sua música, que tem tanto de doce como de manifesto e que é tão dançável como contemplativa.
A selva urbana do Planteia continua a crescer e, quem melhor do que Sofia Manuel, mais conhecida como A Tripeirinha, para não só desconstruir como tornar ainda mais bonito e fascinante o já curioso mundo das plantas.
Uma oficina de construção de marionetas a partir de objectos.
A forma como a natureza, e neste caso os jardins e as suas espécies e possibilidades evoluem, está intimamente sincronizada com as estações do ano.
Nos dias que antecedem o dia da construção, juntam-se pessoas de todas as idades em oficinas de preparação de elementos específicos.
Recycled é a versão em movimento de CRASSH, que levam ao público toda a sua energia e a interação característica dos seus espetáculos.
O prodígio brasileiro Yamandu Costa, que já passou a solo pelo Festim, convida agora, a juntar-se ao seu violão de 7 cordas, o bandoneon de Martín Sued e a guitarra portuguesa de José Manuel Neto, para uma cimeira musical em palco.
Os palcos do Festim vão ser tomados pela majestosa celebração destes ciganos do Rajastão, herdeiros de uma cultura milenar ligada às raízes musicais do deserto indiano.
Durante a manhã de domingo, crianças e adultos são convidados a espreitar e descobrir o jardim do Planteia.
Berlin Im Licht! é o álbum de estreia a solo do barítono Ricardo Panela, que nele se junta ao pianista Nuno Vieira de Almeida, editado pela Artway Records.
234 397 260
Para assuntos relacionados com bilheteira contactar os números 234 397 263